Encurralado por Sérgio Moro, operador do PMDB deve entregar Renan, Cunha e Henrique
O senhor tinha contas bancárias na Suíça? — quis saber o juiz. O réu se resguardou, exercendo o direito de não responder.
— Vou lhe mostrar um documento dessas contas que é um cartão de
assinatura… Eu peço para o senhor dar uma olhadinha. É um documento
datado de 23 de setembro de 2005…
Fernando Antonio Falcão Soares, alagoano de nascimento, Baiano para
os amigos, acabara de completar 48 anos de idade, dos quais oito meses
numa cela do Complexo Médico de Pinhais (PR), onde só vê a luz do dia
pelo retângulo de barras de ferro incrustadas a dois metros do chão.
Balbuciou um “Ok” enquanto recebia o documento bancário.
— Essa assinatura do lado do nome Fernando Antonio Falcão Soares é do senhor?
Absteve-se de explicar.
— Consta um débito nessa conta para uma outra, chamada Pentagram
Energy Corporation. O senhor sabe quem que é o titular dessa conta
Pentagram?
O simbolismo geométrico do pentagrama numa conta bancária suíça sob
suspeita pode sugerir a dissimulação de cinco nomes, cinco sílabas ou
apenas cinco letras de um nome. Sem resposta, seguiu-se outra relação de
empresas, cujas denominações em inglês (Falcon, Hawk etc.) remetem à
lembrança da ave de cabeça pequena, bico forte, curvo, e garras
vigorosas.
O juiz não resistiu:
— O senhor tem alguma predileção por nomes de aves de rapina?
Falcão (ou Baiano) esboçou raro sorriso, e repetiu:
— Permaneço em silêncio.
Semana passada, dez dias depois desse interrogatório, ele recebeu uma
sentença de 16 anos e quatro meses de prisão — similar à aplicada pelo
Supremo Tribunal Federal à empresária Katia Rabello, acionista do Banco
Rural, por lavagem de dinheiro no caso do mensalão.
“A prova aqui é documental, clara como a luz do dia”, escreveu o juiz
Sérgio Moro, indicando a extensa documentação recebida da Justiça suíça
sobre as transações de Fernando Baiano, reconhecido como operador
financeiro de líderes do PMDB em negócios na Petrobras.
Baiano teve a pena agravada num dos processos porque até o último dia
17 não havia revelado o destino de metade do dinheiro embolsado como
“consultor” num negócio de US$ 1,2 bilhão da Petrobras com os grupos
Samsung Heavy Industries (Coreia do Sul) e Mitsui (Japão), para compra
de dois navios-sonda. “A única consultoria efetivamente prestada foi a
de negociar e pagar propina”, registrou Moro, indicando provas de que o
custo da corrupção estava embutido no valor dos contratos.
O Ministério Público Federal segue o rastro deixado por Baiano nas
praças financeiras de Estados Unidos, Grã-Bretanha, Espanha, França,
Japão, China e Uruguai. Apenas pela operação de venda dos navios-sonda à
Petrobras, Baiano recebeu cerca de US$ 30 milhões, que repassou para
contas de diferentes empresas situadas em paraísos fiscais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário